03 maio, 2011

Sua infra foi para a nuvem

Evanildo da Silveira, especial para a INFO

SÃO PAULO - A computação em nuvem permite às empresas pequenas e médias dar saltos rápidos sem gastar fortunas com infraestrutura.


Criada há seis anos, em Belo Horizonte, como uma pequena distribuidora de games para celular, a Samba Tech mudou seu foco de negócios em 2007 e passou a distribuir vídeos pela internet. Desde então, cresceu 300% e hoje mostra números que impressionam. São cerca de 150 000 vídeos distribuídos para mais de 100 países, 500 milhões de visualizações e 6 000 terabytes de tráfego por ano. A expectativa de faturamento para 2011 é de 15 milhões de reais e entre seus clientes estão o SBT, O Boticário e o portal R7, site de notícias da Rede Record, além de clubes de futebol como Atlético Mineiro e Internacional.


Mas esse crescimento rápido seria penoso se a Samba Tech não tivesse optado por soluções de computação em nuvem no lugar de montar uma estrutura própria de TI. A principal vantagem da nuvem está exatamente em permitir às empresas de pequeno e médio portes dar saltos em ritmo acelerado. Isso acontece porque no cloud computing as companhias armazenam e processam os dados em servidores de parceiros, acessados remotamente. “Tivemos uma redução de 50% nos custos de infraestrutura”, diz Fernando Campos, diretor técnico da Samba Tech.


Além dos custos, apostar na nuvem tem gerado vantagens como alta disponibilidade de acesso às informações, facilidade de integração e menor esforço para a atualização de hardware e software. No caso da Samba Tech, a estrutura para armazenar vídeos e soluções de TI exigiriam muitos servidores físicos. “Precisaríamos de um grande investimento inicial para manutenção, mão de obra; e muitas vezes esses servidores se tornam obsoletos rapidamente”, afirma Campos. “Soluções de cloud computing eliminam esse gargalo.”

Fábio Peciguelo, diretor de operações e data center da DHC, Diveo e Uol Host, que estão em processo de fusão, afirma que os custos são transferidos para o fornecedor — no caso da Samba Tech é a Rackspace Hosting —, que obtém ganhos em escala e os repassa para seus clientes. “Além disso, as empresas pagam sob demanda, ou seja, apenas pela capacidade de processamento que usam”, diz Peciguelo.


Usar a nuvem foi essencial para o sucesso da Zetks, pequena empresa de vendas de ingressos pela internet para shows e eventos, fundada em agosto de 2010 em Salvador, Bahia. O primeiro evento em que operou foi um rodeio, em abril de 2010, quando vendeu 70 000 ingressos. Depois, fez o mesmo para os shows de Paul McCartney no Brasil. Seu próximo megashow é o Rock in Rio, em setembro. “Sem a nuvem, jamais poderíamos trabalhar para grandes eventos”, diz o fundador da Zetks, Camilo Teles. “Não teríamos capital suficiente para investir.” A empresa usa as soluções Azure e BizSpark, da Microsoft, que, entre outras características, permitem que atenda a situações de grande variação de demanda.


“Não sabemos como será a procura por ingressos de um determinado evento”, diz Teles. “Às vezes, um servidor só dá conta, em outras, são necessários mais de 30. Com a solução de cloud computing, quanto mais pessoas acessam o site, mais servidores são disponibilizados pelo fornecedor”, diz Teles. “Isso evita que o serviço fique fora do ar.” A Zetks já triplicou de tamanho desde sua fundação, com mais de 1 milhão de ingressos vendidos, e conta com apenas 12 funcionários.

Segurança ainda é problema


Para a e-Genial, que ministra cursos online de tecnologia e inovação em tempo real, com sede em Sorriso, no Mato Grosso, a nuvem foi determinante para o crescimento. “Somos uma empresa pequena, de investimento próprio, e optar por criar produtos web usando cloud tem como principal objetivo a redução de custos, que, comparados a servidores dedicados, são mais baixos”, diz o diretor de desenvolvimento e inovação Carlos Eduardo Franco.


“Quando começamos, há seis anos, operávamos com servidores dedicados que tinham um custo alto, de cerca de 1 500 reais por mês. Há três anos, optamos pela nuvem e hoje temos um servidor dedicado e todos os outros na nuvem, com custo inicial que vai de 75 dólares (125 reais) a 220 dólares (367 reais) por mês.” Hoje, a e-Genial tem cinco fornecedores de cloud computing, entre eles a Locaweb, a Webbynode e a Amazon EC2. Antes da nuvem, a e-Genial conseguia colocar no máximo 100 pessoas simultaneamente em suas salas de aulas virtuais, número que hoje saltou para 1 000.


Mas nem só as pequenas empresas podem se beneficiar da computação em nuvem. Companhias de maior porte também obtêm vantagens. Um exemplo é a Granero Transportes, fundada em 1967, que passou a utilizar soluções de cloud computing no ano passado, com o Google Apps Premier Edition. Usa ainda o ERP Protheus, da Totvs, e o data center da Ascenty, em São Paulo. “Tínhamos um data center próprio com cerca de 70 servidores, com os diversos aplicativos e 30 técnicos na gestão e na manutenção dessa estrutura”, afirma Rafael Granero, diretor administrativo da transportadora. “Optamos pela desmobilização da área e pela terceirização para eliminar os constantes investimentos pesados em ativos de TI e também na melhoria de performance das aplicações”, diz Granero.

Após a implementação da nova plataforma, melhorou a integração dos funcionários das 60 localidades onde a Granero tem negócios, aumentou a disponibilidade de armazenamento e é possível hospedar vídeos no Google Videos e criar uma intranet por meio do Google Sites. Além disso, os serviços estão mais estáveis, há simplicidade e praticidade na administração das contas, sincronização com dispositivos móveis e redução no volume de spams recebidos. Soma-se a isso uma grande redução de investimentos em servidores físicos.


Apesar do saldo positivo, o cloud computing ainda tem problemas, e o principal deles é a segurança. “Como as pessoas podem acessar a nuvem por meio de diferentes dispositivos eletrônicos e as informações armazenadas são compartilhadas por diversas companhias, inclusive as concorrentes, há receio quanto à segurança”, afirma André Assef, diretor operacional da Desix, especializada em seleção e recrutamento de profissionais de TI.


Rafael Granero cita como outra desvantagem a necessidade de reforço da infraestrutura de telecomunicações da empresa. “Ela fica mais cara, porque a redundância é indispensável”, afirma. Mas, como mostram os exemplos, isso não impede que usem a nuvem de forma bastante criativa.

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