02 agosto, 2009

Entenda como a Microsoft vem agindo na tentativa de promover a interoperabilidade com o Software Livre.

Entrevista com Roberto Prado, gerente de estratégias da Microsoft

Após muito ignorar e diminuir o Software Livre, a Microsoft vem demonstrando interesse em colaborar com esse universo. Desde antes de firmar o acordo de colaboração técnica com a Novell em novembro de 2006, a empresa liderada por Steve Ballmer já havia criado um "laboratório de Open Source", como a companhia o chama, com o objetivo de compreender como funcionam os programas de código aberto e a melhor forma de interoperar com eles em redes heterogêneas.
Passados dois anos e meio desde a assinatura do acordo – e aproximadamente cinco anos desde a criação do primeiro laboratório de Open Source –, os laboratórios se multiplicaram, e o do Brasil já produziu conhecimentos importantes para a Microsoft avançar rumo à interoperabilidade com o Software Livre.

Roberto Prado, gerente de estratégias da Microsoft, conversou com a Linux Magazine sobre os resultados já obtidos no Brasil, com as várias iniciativas de colaboração com Software Livre.
Linux Magazine» A Microsoft pôs no ar uma série de vídeos de demonstração a respeito de um case de implantação de soluções Microsoft em conjunto com servidores de código aberto em um ambiente de testes. Como surgiu a ideia de transformar essa experiência em vídeos?
Roberto Prado» Essa experiência de interoperabilidade foi inédita para nós, e aconteceu no Laboratório de Software Livre da Microsoft, coordenado pelo Fábio Cunha. Ao final da produção desse material, fizemos pequenos vídeos para contar como essa experiência ocorreu, o que aprendemos e como o cliente pode se beneficiar dela.

LM» Fora esse material, como estão as iniciativas de interoperabilidade da Microsoft no Brasil?
RP» Fizemos recentemente com o IME (Instituto de Matemática e Estatística) da USP um acordo nos moldes do que já temos com a Unicamp, a UFRGS, a UFPA e a Unesp. Com isso, chegou a cinco o número de universidades parceiras da Microsoft na área de interoperabilidade – e considero essas as melhores universidades em Engenharia de Computação e Tecnologia da Informação.
No Codeplex é possível acessar os projetos feitos pelos estudantes dessas universidades, que vão desde a área de multidisplay até a virtualização em CPUs com múltiplos núcleos.
A Unesp, por exemplo, se engajou com a comunidade KDE e implementou melhorias em aplicativos educativos do KDE (o pacote KDE-Edu), além de contribuir para portar todo o ambiente KDE para a plataforma Windows.

Roberto Prado, Gerente de Estratégias da Microsoft Brasil.
LM» Em fevereiro de 2008, a Microsoft anunciou um conjunto de medidas para favorecer o Código Aberto na empresa. Qual foi o sucesso disso e o que ainda pode melhorar?
RP» O principal, com relação aos formatos de documentos, foi incluir no MS Office o suporte ao formato ODF – o Office 2007 SP2 já traz esse suporte.
LM» Esse suporte ao ODF foi bastante criticado. Como a Microsoft reagiu às críticas?
RP» As críticas são naturais. Algumas pessoas ficam felizes, outras acham que poderia ser melhor – tudo faz parte do processo de aprendizado e evolução. É difícil fazer uma implementação dessas e agradar 100% das pessoas. É preciso dar o primeiro passo.
Para comparar, quando abrimos o primeiro laboratório de interoperabilidade com a Unicamp, muitas pessoas ficaram confusas, sugerindo que fosse apenas uma ação de marketing, mas mostramos que não era isso. A prova são esses vários projetos e as pessoas de fato trabalhando neles.
Ao incluir um novo padrão de documentos, muitos ajustes precisam ser feitos. Talvez a versão do padrão não seja a mesma presente em outros produtos, mas esse é o começo. A Microsoft tem demonstrado a disposição para mudar, que é o primeiro passo.
Também tivemos anúncios recentes relacionados a Java e Sun, além de uma parceria com a Red Hat relacionada à virtualização.

LM» O Sharepoint tem sido citado como uma oportunidade para a Microsoft "mostrar serviço" em relação à interoperabilidade. Como tem sido a atenção a esse ponto específico?
RP» Temos um caso prático no Brasil com relação a isso. Nós reconhecemos o Moodle como uma plataforma de portal. As universidades o utilizam, principalmente em projetos de e-learning e ensino a distância. Nós investimos num projeto para integrar o Moodle – como ambiente de ensino a distância – ao Sharepoint.
Fizemos isso não por haver uma demanda específica nesse sentido, mas por causa de um evento sobre Moodle no qual queríamos participar para discutir a interoperabilidade. Utilizamos o Sharepoint como prova de conceito, e o resultado está publicado no Codeplex. Mostramos como implantamos a autenticação com single sign-on com LDAP e habilitamos o PHP, uma ferramenta de código aberto, para funcionamento na nossa plataforma.
LM» Como está a questão da interoperabilidade entre o Silverlight e o Moonlight?
RP» Temos visto um aumento dos downloads do plugin do Silverlight à medida que mais sites utilizam essa tecnologia. Com o Moonlight, ocorre uma colaboração técnica. Não posso afirmar se temos ou não desenvolvedores trabalhando junto com a Novell. Essa colaboração pode ir desde uma simples visita para discussão das dificuldades de cada equipe até uma abordagem mais reativa de resolução de problemas.
LM» Quanto à Novell, qual o status da colaboração aqui no Brasil?
RP» Com grande mérito das duas empresas, o acordo foi efetivado no Brasil de uma forma única, em comparação com outros países. Eles deram bastante foco à colaboração, estabeleceram parcerias e conseguiram um grande sucesso nessa parceria.
LM» Como a Microsoft vê a aquisição da Sun pela Oracle?
RP» Essa é uma grande aquisição, mas precisamos aguardar para ver o que de fato a Oracle vai fazer com os ativos da Sun. Só então poderemos emitir alguma opinião. Nós temos análises internas, é claro, mas não posso comentar sobre nossa visão acerca da estratégia dos nossos concorrentes.
A Oracle tem feito inúmeras aquisições todos os anos – essa é a estratégia deles. A estratégia da Microsoft é diferente dessa.
Com relação ao Open Source, não sei se a Oracle vai optar por manter a estratégia da Sun.
LM» Tem aumentado o número de fabricantes de netbooks que pretendem adotar o sistema operacional Android, do Google. Como você vê essa concorrência?
RP» Há várias ofertas de sistemas para netbooks, e isso é bom. Os próprios aparelhos estão mudando – me parece que o poder computacional dessas máquinas está aumentando, então não sei se elas continuarão para sempre como netbooks ou se vão tornar-se notebooks.
LM» Quais os avanços do Windows 7 com vistas à interoperabilidade?
RP» Temos um projeto para avaliação da autenticação do Vista e do Windows 7 em OpenLDAP. A princípio, não há maiores dificuldades – algumas novas funções, talvez, mas nada grandioso. O Windows 7 vai funcionar em redes Linux da mesma forma como funciona hoje.
Mais informações
Demonstrações de interoperabilidade: http://technet.microsoft.com/pt-br/demosinterop

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CORPORATE
Linux Magazine #56 Julho de 2009

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